Água, desigualdade e exclusão – Cenário preocupa, mas transformação é possível

Foto: José Roberto Ripper

Por Rivaneide Almeida

“Não deixar ninguém para trás”:  com este título, o Relatório Mundial das Nações Unidas que trata do Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, traz dados pra lá de preocupantes, destacando os sinais de exclusão e desigualdades no mundo. Mesmo sendo reconhecido como um direito humano, o acesso à água e ao saneamento está longe do alcance de uma imensa parte da população do planeta.  Relatório de 2019 revela:  2,1 Bilhões de pessoas não têm acesso à água potável;  4,5 Bilhões de pessoas vivem sem um saneamento seguro.

Segundo Gilbert F. Houngbo, diretor da ONU Água e presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) “se a degradação do meio ambiente natural e a pressão insustentável sobre os recursos hídricos mundiais continuarem a ocorrer nas taxas atuais, 45% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e 40% da produção mundial de grãos estarão em risco até 2050”.

É nesse contexto, onde os mais pobres são os mais afeados, que chegamos a esse 22 de Março de 2019, Dia Mundial da Água. Com informações trazendo ainda mais desafios e a necessidade de repensar o nosso viver e nossas práticas cotidianas. A conjuntura brasileira vem tomando rumos pouco animadores no tocante à preservação da natureza e, consequentemente, à proteção das águas. Para o semiárido a preocupação é ainda maior, especialmente num cenário de seca prolongada, já considerada a mais devastadora dos últimos cem anos.

Na contramão dessas ameaças estão as práticas de convivência com o Semiárido, numa perspectiva agroecológica, surgindo como alternativa para enfrentamento real dessa realidade construída pelo descaso, ganância e falta de vontade política para resolver a questão. Iniciativas como o Programa Um Milhão de Cisternas, comprovam a viabilidade das tecnologias sociais, a partir de uma política pública acessível e de baixo custo.

Outro exemplo de tecnologia, que combina reaproveitamento de água cinza com saneamento, vem sendo experimentada no Sertão do Pajeú, com resultados que apontam um caminho importante para as populações rurais. Trata-se do Sistema de Reuso de Águas Cinzas (RACs), onde a água utilizada para o banho, da pia do banheiro, para lavar louça e roupa é filtrada e usada para irrigação de salvação nos períodos de estiagem, dando origem à Sistemas Agroflorestais que além de produzir alimentos ainda protegem a vida do solo e preservam a natureza.

Mesmo comemorando essas conquistas, ainda há muito a ser feito para transformar a preocupante realidade dos recursos hídricos permanentemente dilapidados, com a emissão de esgotos urbanos nos rios, a destruição das nascentes, a retiradas das matas, as queimadas e o uso de agrotóxicos, privilegiando os mais ricos e alargando as desigualdades como mais um elemento para aumentar a fome e a miséria. Todas essas reflexões estão na pauta do Dia Mundial da Água, mas permanecerão nos debates e ações de quem defende um mundo mais justo e igualitário.

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