Como cuidar da saúde mental em tempos de pandemia

Foto: Arquivo Pessoal

Como cuidar da saúde mental em tempos de pandemia 

Como sabemos, uma de nossas melhores armas no combate ao Coronavírus é o isolamento social. Mas isso não significa que esse seja um sistema completamente blindado de defesa. No fim das contas, somos pessoas sociais e, para muitos de nós, o isolamento social pode ser um grande desafio. Para a psicóloga formada pela UFBA e ativista da Luta Antimanicomial Géssica Aquino, desde o começo da quarentena as pessoas têm procurado orientação sobre como se cuidar e se manter bem nesse momento de isolamento. Confira as dicas da especialista:

Saúde física e mental estão interligadas

A gente tem que pensar que a saúde física e a saúde mental estão interligadas. Quando a gente tem alguma coisa que afeta a nossa saúde mental, isso pode se manifestar com alguma doença física. Às vezes a pessoa passa por alguma muito difícil, uma situação muito traumática, e ela não consegue cuidar disso… isso pode se manifestar com alguma doença no corpo, a pessoa pinga de médico em médico e ninguém explica, porque aquilo tem uma causa que é psicológica. Então, da mesma forma que, ao ter alguma doença física, temos que nos afastar do trabalho, o mesmo acontece com a saúde mental. Ter que lidar com o adoecimento, com as dificuldades, com as incertezas sobre esse estar doente pode afetar também como a pessoa se sente e como ela reage à essa dificuldade.

Saúde mental é um cuidado não só individual, mas também coletivo

A gente está acostumada a pensar que saúde é o oposto de doença. Mas a gente não está acostumada a pensar que, se a gente não está doente, temos que melhorar ou manter a nossa saúde. Pela definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é mais do que não estar doente, é a gente pensar no completo bem-estar que seja físico, mental e social. Então, a OMS já vai englobar a saúde física e a saúde mental juntas, como um atributo, como parte do estar saudável. O que é saúde mental em si? Quando a gente muda a palavra, muda de saúde para doença, de saúde mental para doença mental… doença mental remete à loucura, uma ideia que foi construída pela psiquiatria, ao longo da história… de que as pessoas que têm transtorno mental, que desenvolvem algum tipo de transtorno mental são doentes mentais e que também não têm nenhuma outra possibilidade de ser saudável na vida, de ter as suas relações, seu trabalho, seu bem-estar. E isso também limita muito o nosso pensamento… Então, eu gosto de pensar que saúde mental é o sentir-se bem com a vida, é a gente conseguir manter nossas relações de uma forma que seja boa para as duas pessoas envolvidas ou para as mais pessoas envolvidas, é pensar que a gente consegue desenvolver bem atividades que sejam prazerosas, que consegue desenvolver bem o trabalho, que consegue lidar com as dificuldades da vida, encontrando saídas para lidar com as dificuldades. E isso também me faz pensar que isso não é uma coisa que a gente faz sozinho… a saúde mental não depende só da pessoa, mas com o apoio da rede, em comunidade, em contato com outras pessoas, nas nossas relações. 

A rotina mudou e precisamos nos adaptar

A primeira coisa que a gente tem que lembrar é que a nossa rotina já está afetada, então a gente não tem como manter a expectativa de que as coisas vão continuar sendo como eram. Então, qual é a rotina possível: quem está precisando sair para trabalhar, que precisa incorporar algumas medidas de segurança, alguns cuidados, tanto para se proteger quanto para proteger as outras pessoas. Os cuidados dentro de casa, também com quem não sai… Isso acabou sendo parte de uma rotina que a gente não fazia ideia, né, de que isso ia acontecer um dia, que a gente ia precisar fazer isso todos os dias. Então, quem está dentro de casa, está convivendo 24 horas com familiares, com seus companheiros, com os filhos, com quem mora junto… Então, isso mexe também com relações, porque, em algum momento, a gente podia se afastar e sentir um pouco o que é estar sozinho e fazer coisas que a gente gosta sozinho, que também é importante, e agora a gente tem que lidar com as relações, com todas as suas intensidades durante todo o tempo. Então, a rotina não é a mesma, não tem como ser. Então, qual é a rotina possível? Acho que o mais importante é pensar que têm algumas coisas que são importantes manter. Uma rotina de alimentação, uma rotina de sono, não deixar que isso se perca completamente. A gente precisa de um pouco mais de tolerância para as mudanças que a gente sente no dia a dia. Além disso, o ser humano é um ser sociável, que precisa dos outros. A gente já nasce precisando dos outros, de alguém que cuide, de alguém que converse, que insira a gente no mundo. Então, é bom manter o contato com as pessoas que você gosta, que você se sente bem… manter outros vínculos, com a vizinhança, por exemplo, dentro das possibilidades de circulação. Acho que é pessoalmente isso… as pessoas que estão em casa convivendo com familiares ou com amigos, tentar fazer atividades juntos, acho que isso é importante. 

Se precisar, procure orientação especializada na área de saúde mental

As psicólogas estão sendo convocadas para prestar seu serviço nesse momento, justamente pelos efeitos que essa pandemia está tendo nas pessoas. A gente tem percebido o quanto isso tem afetado as pessoas. Então, junto a todos outros profissionais de saúde que atuam nos serviços, que estão cuidando do corpo das pessoas, as psicólogas também estão para poder dar esse suporte para que as pessoas mantenham sua saúde mental ou que elas sejam cuidadas quando sua saúde mental estiver afetada. Então, algumas coisas nesse momento que não foram vivenciadas podem ser comuns, mas chega a um ponto em que é preciso perceber que se está chegando perto do limite, é uma situação que eu não estou conseguindo tomar conta sozinho, é um sofrimento que está incomodando muito todos os dias. Às vezes não é você, às vezes é com alguém que mora com você ou com algum amigo que está em contato constante e você percebe que a pessoa não está muito bem. Então, quando liga esse alerta assim, “poxa, acho que fulano está precisando de uma ajuda, fulano está meio estranho”, é a hora de procura ajuda porque aí, com orientação de um profissional, vai se fazer essa avaliação se é um caso para ser acompanhado por uma psicóloga, num serviço especializado, ou se é uma situação que pode ser contornada com algumas orientações para serem realizadas pela pessoa mesma, em casa. 

Tem algumas situações mais graves, pessoas que têm um transtorno mental grave, pessoas que já frequentavam CAPES ou que têm algum primeiro surto nesse momento, precisa-se pensar no cuidado imediato. Então, não se tem que evitar em procurar ajuda. Mas é importante lembrar que, se for possível, primeiro procura uma orientação ou por telefone ou no posto de saúde mais perto de casa, porque aí vai ter um profissional que vai escutar a situação e vai saber orientar sobre qual medida deve ser tomada. 

Proteja-se do excesso de informações sobre a pandemia

Além das fake news, as informações que não são verdadeiras, que circulam, também é importante não ficar preocupado em se informar demais. Porque isso também gera angústia de ficar o tempo inteiro exposto a informações que podem trazer essa sensação de incerteza, de lidar com o trágico cotidianamente… Então, é importante manter algum nível de informação. Mas se isso é uma coisa que está causando mais mal do que bem, dê um tempo de parar de assistir TV, não fique acompanhando todas as notícias que saem. Uma possibilidade é eleger um horário do dia, um jornal você goste de assistir, que seja suficiente para lhe dar um norte, um pouco da situação como é que está, e não assistir mais outro jornal, escolher um só para assistir no dia. 

Outra dica é não ficar o tempo todo falando sobre isso, circular por outros assuntos, retomando as coisas que sejam prazerosas e não ficar girando em torno dessa situação. É importante falar sobre isso também, né. Isso não significa que seja proibido falar sobre como está se sentindo, mas de uma forma geral, é importante manter as nossas conversas e relações circulando por outras coisas, porque a gente precisa desse descanso também para a gente. 

 

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