Educação contextualizada como emancipação


Foto: Dilene Nicolau

Por Dilene Nicolau e Janaina Ferraz (Técnica e Assessora para Juventudes do Centro Sabiá)

No segundo dia do intercâmbio sobre educação do campo, que aconteceu entre os dias 22 e 26 de maio, os participantes visitaram o Centro de Formação São José Brandão, a sede rural do Instituto Regional da Pesquisa Agropecuária Apropriada-IRPAA, organização não governamental sediada em Juazeiro-BA, e que trabalha pela convivência com o Semiárido desde sua formação, em 1990. O objetivo principal do IRPAA é garantir a vida plena no Semiárido. Segundo Felipe Sena, coordenador do eixo de educação da ONG, nos dez primeiros anos de fundação o IRPAA teve um papel importante na divulgação para a população sobre a proposta de convivência com o Semiárido e nos últimos 17 anos teve o papel estratégico de consolidar este aspecto sobre a proposta de convivência. No contexto pós golpe, ele afirma que o IRPAA tem defendido essa proposta do enfrentamento pera a manutenção dos direitos já conquistados ao longo desse tempo.

Atualmente a organização se mantem com financiamentos de organizações da cooperação internacional e por meio de 3 projetos via governo da Bahia que são: Chamadas de ATER, Bahia produtiva e Pro-semiárido.

Durante a visita, o grupo conheceu a estrutura física da sede rural da ONG, que conta com uma bela estrutura com cerca de 15 tecnologias de convivência com o Semiárido, como Cisterna Calçadão, de placas, barreiro trincheira, BAP- Bomba D’água Popular, filtro biológico, sistema de tratamento de esgoto, dentre outros. Algumas são de fato utilizadas pelo espaço e outros são apenas para demonstração das diversas possibilidades de tecnologias que garantem o bem viver da população do Semiárido. 


Foto: Luiz Filho

Os participantes conheceram também um pouco da estrutura metodológica da organização, que se divide por eixos temáticos, que são eles: 1º Terra, Clima e Água; 2º Educação; 3º Comunicação; e 4º Administração e Sistema. Interessante o debate sobre os enfrentamentos que são feitos pelos profissionais da organização, ouvimos relatos que alguns técnicos da ONG, especialmente do eixo Terra, Clima e Água já receberam ameaças de morte por se configurar como um risco para os mineradores da região. 

Atualmente a ONG atua em 11 municípios no estado da Bahia, que são eles: Sobradinho, Uauá, Canudos, Campo Alegre de Lourdes, Pilão Arcado, Sento sé, Campo Formoso, Curaçá, Juazeiro e Casa Nova.  Interessante também é que na estrutura deles tem uma república onde uma média de 18 jovens moram lá durante 4 anos para colocar em prática os conhecimentos e aprendizados conseguidos nas Universidades ou nas escolas de formações nas quais estão inseridos na região. 

E para fechar com chave de ouro, o grupo teve oportunidade de participar de uma roda de diálogo sobre educação contextualizada, que é a proposta educacional defendida pelo IRPAA. Onde Felipe Sena e Antônio Ivo contaram que tal proposta se deu a partir da provocação das famílias. Eles colocaram os diversos desafios que estão postos para manutenção dessa proposta com a concentração de terras e o grandioso avanço do agronegócio na região, políticas públicas governamentais pontuais e compensatória, grandes projetos de irrigação, monocultivos e minerações dentre todos outros aspectos. Eles destacaram também os avanços que tiveram ao longo desse ano, parte de uma educação verdadeiramente emancipadora. Eles ainda apontam para a necessidade de entendimento de que a educação contextualizada deve ser feita no campo e também na cidade, rompendo o paradigma colonialista que tivemos ao longo de todo esse tempo. Paradigmas esses que elenca padrões, formas, jeitos de ser e etc. Refletiram também sobre o papel das universidades no que se refere a formação dos/as educadores/as, esses espaços por muitas vezes sendo os primeiros a virarem as costas para a realidade local. É preciso ajudar no entendimento de que o saber popular caminha junto com o saber científico, conforme destaca Antônio Ivo. 


Foto: Dilene Nicolau

O intercâmbio foi muito proveitoso para a professora Maria José, da Comunidade Quilombola do Engenho Siqueira, Rio Formoso/PE. “Os professores precisam ser formados para olhar para a realidade. Não é mostrado pra gente, na prática, como se faz a contextualização. Eu como professora não tive antes uma formação como essa que estou vendo aqui desde ontem. Entendi ainda mais o meu compromisso enquanto educadora, que é o de trabalhar a realidade do aluno. A gente tem sede de aprender e temos o dever de ajudar essas crianças a valorizar o que elas têm”, destacou ela. 

 

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *