Entrevista: A Frente Brasil Popular e o projeto político popular para o Brasil


Gleisa Campigotto é da Marcha Mundial de Mulheres e da coordenação da Frente / Foto: PH Silva

Por Sara Brito (Centro Sabiá)

A Frente Brasil Popular (FBP) foi lançada em setembro de 2015 e congrega movimentos sociais, movimentos de mulheres, de juventudes, do campo, da cidade, intelectuais, movimento sindical, LGBT, pastorais sociais, partidos políticos, intelectuais de esquerda e cidadãs e cidadãos que olham para a frente como uma possibilidade de avanço com um projeto político popular para o país. Conversamos com Gleisa Campigotto, integrante da coordenação da FBP e da Marcha Mundial de Mulheres, sobre o papel da Frente Brasil Popular no contexto que vivemos hoje no Brasil e as pautas de luta para o ano de 2017. Confira!

Canto do Sabiá: Qual é o objetivo da Frente Brasil Popular?

Gleisa Campigoto: A Frente tem um papel importante de unidade da classe trabalhadora, unidade de projeto político, unidade de luta. Claro que um dos grandes objetivos da FBP é construir uma unidade de todo esse campo político de esquerda no Brasil. A gente vem num processo desde 2015 pautando várias lutas, e a frente lança um manifesto ao povo brasileiro, é o que nos dá unidade nacionalmente. São quatro pontos que nos dão unidade: 1) Defender os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras; 2) Ampliar a democracia e a participação popular nas decisões sobre o presente e o futuro do nosso país; 3) Promover as reformas estruturais e construir um projeto nacional de desenvolvimento democrático popular – que aí cabe a reforma do estado, a reforma política, a reforma do poder judiciário – e 4) Defender a soberania nacional e as riquezas naturais que o nosso país tem, quando hoje a grande maioria estão entregues às transnacionais. 

CS: No cenário político e social do Brasil atualmente tem muita coisa acontecendo. Quais são as principais pautas de lutas da Frente neste momento? 

GC: Já no Carnaval vários movimentos sociais e sindicais fizeram blocos contra a reforma da previdência. Tivemos o ato do 8 de março, protagonizado por mulheres de vários movimentos feministas, mas que a FBP impulsionou também, porque nós movimentos feministas estamos dentro da Frente e pautamos que o 8 de março fosse uma luta da FBP. Temos essa jornada de 6 a 15 de março, com uma série de reivindicações. Dia 14 tem a luta dos Atingidos por Barragens e no dia 15 tem a greve nacional dos trabalhadores da educação. E já dia 31 também temos uma grande luta em defesa da democracia e contra a reforma da previdência. E para além das outras pautas de reforma que estão tramitando no Congresso e que ainda não temos acesso, mas a reforma trabalhista é algo que também tá tramitando. Temos uma série de ataques aos nossos direitos que estão tramitando dentro do Congresso Nacional de forma muito tranquila e nós precisamos estar organizadas e organizados nas ruas para barrar essas reformas, para derrubar Temer e para construir um novo projeto político de país, para que a gente possa ter vez e voz na população brasileira. 

CS: De que forma os movimentos de mulheres participam das pautas da Frente Brasil Popular?

GC: Nós da Marcha Mundial de Mulheres compomos a coordenação nacional e a secretaria operativa da FBP e apesar de todas as nossas pautas do movimento feminista – a luta pelo fim da violência contra a mulher, pela legalização do aborto – aquelas pautas que historicamente caem sobre as nossas cabeças, sobre os nossos corpos, a gente acredita que o movimento feminista e o movimento de mulheres não é capaz sozinho de fazer uma transformação no Brasil. Acreditamos que a luta contra as opressões, contra o machismo, o patriarcado e o racismo tem que ser uma luta de toda a classe trabalhadora. Então nós estamos inseridas nesse processo de luta da FBP acreditando que para construir uma sociedade ela precisa ser construída lado a lado com mulheres e homens. O primeiro calendário de luta da FBP foi a luta do 8 de março e as mulheres contra a reforma da previdência. Temos esse processo muito maior que a gente sabe que somos as primeiras a ficar desempregadas, e as mulheres negras também são as primeiras a perder seus direitos, a ter as piores condições de trabalho, principalmente no trabalho informal. Somos poucas com carteira assinada, com os direitos garantidos. Inclusive, se a reforma da previdência passar, a pobreza entre as mulheres do campo vai aumentar de 6% para 56%, um aumento de 50%. Porque principalmente nas cidades pequenas e nos interiores, são as mulheres as provedoras dos lares, então às vezes uma mulher que é aposentada sustenta toda a família, filho, neto, marido, genro, sobrinho… e a possibilidade dessas mulheres não poderem mais se aposentar vai aumentar drasticamente o índice de pobreza no interior do Brasil, principalmente no Nordeste. 

CS: Existe alguma pauta específica para Pernambuco?

GC: Aqui em Pernambuco nós estamos num processo muito bonito de construção de unidade entre os movimentos sociais. Em 2016, organizamos dois acampamentos contra o Golpe na Praça do Derby, que batizamos como Praça da Democracia. Em junho e julho organizamos a Caravana em Defesa da Democracia, saindo de Petrolina e passando em 10 cidades para denunciar o golpe, denunciar os golpistas e traidores de todo o estado, construir a Frente Brasil Popular e um calendário de luta de Pernambuco para o ano de 2017. Queremos muito construir o calendário de 2017 contra a reforma da previdência, contra a reforma trabalhista e construir conjuntamente um projeto político que possa colocar o projeto da classe trabalhadora em disputa no cenário nacional. E conquistar corações e mentes, de que todos os militantes políticos e sociais, do estado de Pernambuco e do Brasil, possam se sentir Frente Brasil Popular. A gente precisa, e é um esforço de todos os movimentos e militantes que compõem a Frente Brasil Popular, que ela se transforme em algo massivo, em que toda a população pernambucana e brasileira possa olhar para a Frente e dizer: eu sou da Frente Brasil Popular, organizar os seus comitês, organizar o seu bairro, sua rua e se sentir Frente Brasil Popular. Que ela se torne algo massivo, algo que as pessoas possam olhar pra ela e imaginar que é uma saída política, conjunta e coletiva.  

CS: Qual a importância da Frente Brasil Popular nesse momento que vivemos no país?

GC: Historicamente a esquerda brasileira tem uma dificuldade muito grande de construir unidade. A classe trabalhadora em cada período histórico reinventa um novo instrumento político que lhe dê possibilidade de disputar política e projeto. E a construção da Frente é um novo momento inclusive de construção de unidade. Não podemos na história política do país hoje, nesse momento de dissenso, de lutas, de crise política, crise econômica, crise social, aliado à crise internacional do capital, abrir mão de construir a unidade de esquerda no país. Cada organização política e movimento social tem suas pautas específicas. Não precisamos abrir mão das nossas pautas específicas, mas precisamos necessariamente centrar no que nos dá unidade, quais são os nossos pontos de convergência. E a Frente Brasil Popular precisa ser isso, esse espaço de convergência da luta de esquerda brasileira, para que a gente possa ter um novo momento de ápice de luta para o povo brasileiro e para que possamos ter o nosso projeto político, nosso projeto popular em disputa na sociedade. 

CS: Como as pessoas podem participar das lutas da Frente?

GC: Quem quiser organizar a Frente Brasil Popular entra em contato com a secretaria operativa ou organiza. Organiza seu bairro, organiza seu município, organiza sua comunidade… a identidade da Frente Brasil Popular precisa ser apropriada pelo povo brasileiro. Então se as pessoas se identificam e olham para a Frente Brasil Popular como possibilidade de construir algo novo, precisamos construir. 

 

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