Juventudes apostam na Agroecologia, articulação e comunicação para resistência


Juventudes de todas as regiões do Brasil marcaram presença no Recife / Foto: Amanda Sampaio

A diversidade e a riqueza de diálogos marcaram encontro que aconteceu no Recife, entre os dias 26 e 28 de outubro

Por Sara Brito (Centro Sabiá)

Juventudes de todas as regiões do Brasil se reuniram em Recife, Pernambuco, durante os dias 26, 27 e 28 de outubro para o encontro Diálogos Juventudes e Agroecologia. O encontro retomou as discussões da Plenária de Juventudes do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que aconteceu em 2014, e teve como mote “Por que interessa à juventude discutir a Agroecologia?”. 

A resposta à essa pergunta permeou todo o encontro, trazida pelos/as próprios/as jovens que eram em sua maioria agricultores/as e lidam diretamente com a Agroecologia. A primeira atividade foi a construção de uma linha do tempo para relembrar os caminhos de articulação que levaram a esse encontro: o II ENA (2006), a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20 (2012), as Caravanas Agroecológicas e Culturais Rumo ao III ENA, especialmente a das Juventudes do Nordeste (2014) e o próprio III ENA com a Plenária das Juventudes. Estavam presentes também jovens urbanos/as, que lembraram o I Encontro Nacional de Agricultura Urbana (ENAU), que aconteceu no Rio de Janeiro em 2015. 

A permanência das juventudes no campo também foi abordada e os próprios jovens levantaram os fatores de atração e repulsão desse movimento. A Agroecologia, a educação no campo, o acesso à terra e aos recursos naturais, o acesso às políticas públicas e a geração de renda foram fatores apontados como favoráveis para a permanência da juventude no campo. Já o preconceito (machismo, homofobia, preconceito com o rural), a invisibilidade do trabalho do/a jovem, o agronegócio e agrotóxicos foram indicados como fatores que expulsam os/as jovens rurais de seu local de origem. Tudo isso foi comprovado com a apresentação das pesquisas assessoradas por organizações e desenvolvidas pelos/as próprios/as jovens em seus territórios: a da Comissão de Jovens do Polo da Borborema, assessorada pela AS-PTA, na Paraíba; Juventude e Permanência no Campo – Reflexões dos/as jovens rurais sobre possibilidades, limites e desafios (Centro Sabiá/Pernambuco); e Juventudes e Agroecologia: a construção da permanência no campo na Zona da Mata mineira (AS-PTA e CTA-ZM). 


Jovens apresentaram pesquisas feitas em diferentes regiões sobre a permanência no campo / Foto: Amanda Sampaio

Natália Farias de Moura, uma das autoras da pesquisa realizada em Minas Gerais, destacou que existem diferenças significativas nas questões que envolvem a jovem mulher e o jovem homem do campo e que o feminismo é um fator forte para a permanência das jovens no campo. “Quando iniciamos a pesquisa comecei a perceber o fosso entre os jovens homens e as jovens mulheres, e o quanto elas são desprezadas, o quanto o seu trabalho é desvalorizado e desvalorado”, lembrou ela. 

De modo geral, as pesquisas, apesar de realizadas em três regiões diferentes do país, apontaram uma unidade nos resultados. A jovem Mônica Lourenço, que apresentou a pesquisa realizada no Polo da Borborema, também lembrou a opressão que sofrem as jovens mulheres. “Quando a gente começou o trabalho, a gente tinha ideia de que o machismo era muito forte, mas não tínhamos noção de que iriamos encontrar uma jovem de 16 anos, por exemplo, que não poderia trabalhar na terra de seus pais, porque aquela terra seria herdada por seu irmão homem de 9 anos”, comentou.

A antropóloga e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ) Elisa Guaraná esteve presente no encontro Diálogos Juventudes e Agroecologia e trouxe um retrospecto dos avanços conquistados pelas juventudes nos últimos 15 anos, como o reconhecimento da diversidade das juventudes, sua identidade política consolidada, a Secretaria Nacional de Juventude e o Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural. Para ela, uma das grandes conquistas para a juventude rural durante os governos de esquerda foi a educação no campo. Mas não houveram avanços na questão da reforma agrária e do acesso à terra, por exemplo. “Não conseguimos criar uma política pública integrada e nacional para as juventudes rurais, que incorpore a diversidade regional e fortaleça o projeto político da Agroecologia. A população conseguiu entender a importância da Agroecologia para a saúde mas não reconhece quem está por trás. Porque é um embate de modelos, a mídia não tem interesse nisso. Conseguimos avançar no reconhecimento da alimentação saudável, mas não do produtor que está por traz”, disse ela. 

Leia mais sobre o momento com Elisa Guaraná no Diálogos Juventudes e Agroecologia 

O viés da luta esteve muito presente no encontro, com a lembrança do Golpe que estamos vivendo e os direitos que estão sendo perdidos. No segundo dia, após as vivências culturais nos museus Cais do Sertão e Paço do Frevo, as juventudes saíram em cortejo do Marco Zero até a Praça do Arsenal em ato político cultural. Os gritos eram contra o Golpe, a reforma do ensino médio e a PEC 241, que agora tramita no Senado com outro nome: PEC 55.


Juventudes marcharam pelas ruas do Recife pedindo Fora Temer / Foto: Sara Brito

Como enfrentamento aos tempos de Golpe e retrocessos, as juventudes pensaram em dois eixos principais: o fortalecimento da Agroecologia em suas comunidades e a comunicação. O que dialoga diretamente com os objetivos pensados anteriormente para o encontro, com forte destaque para a construção dos territórios agroecológicos, através da articulação das juventudes em nível local, regional e nacional. Nacionalmente, era também um dos objetivos construir o Grupo de Trabalho de Juventudes dentro da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Os/as próprios/as jovens escolheram dois nomes (um homem e uma mulher) entre eles para representar cada região no GT de Juventudes, que já tem como tarefas a articulação para a participação de jovens no Congresso Brasileiro de Agroecologia em 2017 e no IV Encontro Nacional de Agroecologia, em 2018. “A nossa capacidade de conquistas vai depender diretamente da nossa capacidade de mobilização nos territórios e comunicação com outros setores da sociedade”, disse Denis Monteiro, da secretaria executiva da ANA. 

Para Alexandre Meneses, da terre des hommes, cooperação internacional que apoia ações com as juventudes no Brasil, a força maior da resistência aos problemas que o Brasil enfrenta hoje está nessa parcela da população. “Esse encontro reuniu uma possibilidade de diálogo muito importante. E a gente percebe uma volta de um protagonismo muito forte da juventude. Como em outros momentos da história do país em que ela foi agente de mudanças. É o único segmento social que está fazendo uma oposição sistemática ao governo Temer”, afirmou ele.

 

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