Não se nasce Feminista, torna-se Feminista

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Escola Feminista, formação com mulheres agricultoras e assessoras técnicas, foi uma parceria do Centro Sabiá com o MMTR-NE e tem Seminário de encerramento, no Agreste

Por Sara Brito (Centro Sabiá)

Todos os dias são dias de luta para as mulheres. Para todas as mulheres. Sejam elas como forem. Mas o dia 8 de março foi o escolhido para ficar na lembrança de todos e todas. Nessa data em 2016, cerca de 300 mulheres do campo e da cidade, de vários movimentos, estarão reunidas em Caruaru, Agreste de Pernambuco no Ato “Mulheres Diversas: Caminhos em União”. Na programação, uma marcha pela cidade, com muito som, arte, determinação e diversidade. Serão retratadas as diversas formas de violência e discriminação contra as mulheres e ainda contará com uma mostra de produtos artesanais e agroecológicos das mulheres.

“O ato foi idealizado dentro da Escola Feminista, assim como a integração de vários outros movimentos e coletivos diversos. Estamos reunindo uma força feminina e feminista em Caruaru”, diz Cristiane Lina, assistente social e assessora do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MMTR-NE).

A Escola Feminista se espelhou em outros processos já executados pelo MMTR-NE, com o objetivo de formar e empoderar mulheres para que elas mesmas se tornem multiplicadoras em suas próprias comunidades. Dessa vez, a construção da Escola foi feita junto com o Centro Sabiá e a Universidade Federal Rural de Pernambuco. “Um fato importante é o Sabiá reconhecer que não é uma organização feminista, é uma organização mista que não tem um acúmulo histórico necessário para trabalhar especificamente essas questões feministas. Mas temos avançado nessa perspectiva nos últimos dois anos de execução da chamada pública de Ater (Assessoria Técnica e Extensão Rural), de assegurar uma formação para nossa equipe, homens e mulheres, um trabalho com abordagem de gênero. Reconhecemos que essa formação não pode ser genérica, ela precisa também ser específica para as mulheres. É dessa nossa perspectiva e da nossa relação histórica com o MMTR-NE que surgiu a ideia de buscarmos o apoio do movimento para montar uma turma da Escola Feminista com agricultoras que estão sendo assessoradas pela chamada de Ater”, explica Alexandre Henrique Pires, coordenador geral do Centro Sabiá.

O conteúdo e a metodologia da Escola Feminista foram construídos em conjunto pelo Centro Sabiá e o MMTR-NE. A formação foi dividida em 4 módulos temáticos, onde foram discutidos temas como a descolonização do Brasil e das mulheres, a divisão sexual do trabalho, o enfrentamento à violência contra a mulher e a auto-organização de mulheres e feminismo. Na segunda-feira, dia 07 de março, haverá um seminário de encerramento, para que as duas turmas que completaram a Escola Feminista se integrem, façam uma avaliação conjunta e pensem no que virá daqui para frente. “Uma das avaliações positivas que já temos é a importância da formação continuada, que é muito melhor para elas se apropriarem das discussões. Foi muito positivo para as mulheres do movimento e para as agricultoras assessoradas”, diz Cristiane.

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A agricultora Glória Oliveira, a Dona Glorinha, da comunidade Juá, no município de Bezerros, conta que fez muitas amigas e aprendeu bastante no curso. “Foram muitos aprendizados, ficamos conhecendo nossos direitos. É muito bom saber nossos direitos porque assim podemos lidar com as dificuldades. Eu tenho que buscar o que é melhor pra mim e não aceitar o que querem me colocar”, afirma ela. Para a separação do ex-marido, que aconteceu há 12 anos, Dona Glorinha tem um motivo simples. “Antes só do que mal acompanhada. Ninguém faz ninguém feliz, você mesma é quem faz sua felicidade. Sou feliz com o que eu sou e comigo mesma”, finaliza.

Segundo a própria Glorinha, quem a convidou a participar da Escola foi Miriam Lima, assessora técnica do Centro Sabiá que trabalha diretamente com a chamada pública de Ater. A própria Miriam participou da Escola. “Eu achei muito bom para a gente se apropriar desses assuntos e dialogar com homens e mulheres. Me ajudou muito, até na minha vida pessoal mesmo. No trabalho ajuda também porque ficamos mais abertas, no sentido de dialogar mais com as mulheres e abordar esses assuntos nas visitas; que elas também trabalham em casa e não só ajudam como pensam algumas”, conta Miriam.

Alexandre explica a importância de, além das agricultoras, as assessoras técnicas também participarem da formação. “Entendemos que os contextos de vidas são diferentes, mas a violência é a mesma. E as situações que colocam a necessidade de empoderamento das mulheres da sua vida, dos seus corpos, da sua história, é a mesma. Além disso, a Ater não pode ser somente a família de forma genérica, ela precisa reconhecer que a família é composta por sujeitos distintos. Ela precisa tratar as mulheres no rural num trabalho de assistência técnica que reconheça e acolha suas demandas específicas. A Escola Feminista forma para que as próprias mulheres agricultoras possam se colocar como sujeitos do processo e no caso das assessoras técnicas saberem como abordar as mulheres em determinadas situações em que os seus direitos estão sendo negados, seus corpos estão sendo violentados. Para poder se saber e ter sensibilidade é preciso reconhecer que realidades são essas”, afirma o coordenador geral do Centro Sabiá.

A chamada pública de Ater Agroecologia do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) é executada pelo Centro Sabiá na Zona da Mata, no Agreste e no Sertão do Pajeú. A Ater para Agroecologia exige a assessoria de no mínimo 50% de mulheres do total de assessorados/as; que no mínimo 30% da equipe técnica também seja de mulheres, e que 30% das atividades tem que ser específicas para mulheres. Essa edição da Escola Feminista aconteceu no Agreste, mas já foram iniciados diálogos com outras organizações feministas no território do Sertão do Pajeú e da Mata Sul para ampliar a formação para os outros territórios.


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