Solidariedade para dois destinos

Foto: Centro Sabiá/Laudenice Oliveira

Daqui vive no hospital de Rio Formoso a cerca de 40 anos

Por Laudenice Oliveira (Centro Sabiá)

Todos e todas que estavam abrigadas na Escola Municipal Pedro de Albuquerque, em Rio Formoso, Zona da Mata de Pernambuco, vítimas das enchentes do final do mês de maio, já foram embora para retomar suas vidas. Mas duas pessoas continuavam lá à espera de algum acontecimento que mudasse os seus destinos. Dona Maria de Fátima Oliveira, de 59 anos, e Seu Daqui. Sim, o nome dele é Daqui, assim o batizaram, porque essa é a palavra que ele pronuncia desde que foi acolhido, há cerca de 40 anos, no hospital da cidade, acometido de um AVC. Nunca se descobriu de onde ele veio, que idade tem, onde se encontra sua família.

Dona Fátima sabe de onde veio, só não sabe para aonde vai. Sua casa ficava no Engenho Machado, próximo à cidade de Rio Formoso. A água da enchente bateu lá e derrubou sua casa. Ela perdeu tudo. “Quase caia tudo por cima de mim”, diz Dona Fátima com uma voz calma e triste, como se não acreditasse ainda no que havia acontecido. Ela conta que só tem uma filha e que esta vive em São Paulo e que não pode ajudá-la. Agora, espera sentadinha numa cadeira na entrada da escola que alguém decida sobre seu destino. A gestora da Escola, Marta Merynstaene, informa que a assistência social da prefeitura estava chegando para levá-la para um abrigo. A notícia não causa nenhuma reação em dona Fátima. É como se ela ainda estivesse com os olhos mergulhados nas águas que levaram sua moradia e seus pertences.

Foto: Centro Sabiá/Laudenice Oliveira

Dona Fátima não sabe quando vai voltar para casa

Seu Daqui só consegue pronunciar cinco palavras. Numa cadeira de rodas tenta explicar com gestos e pronunciando o tempo todo a palavra daqui, que desejava voltar para o lugarzinho onde morava lá dentro do hospital. Pra lá ele não pode voltar, pois as águas da enchente devastaram todo o hospital. Sem documentos, sem idade, sem nome, fica difícil resolver a situação de Daqui. A assistência social recorreu ao Ministério Público para providenciar alguma documentação para ele. Fazendo muitos gestos ele faz a gente compreender que a idade dele fica em torno de 70 anos e que ele chegou ali ainda jovem. De acordo com Marta, foi feito o possível, quando ele chegou ao hospital, para se descobrir sua família, mas nunca ninguém o procurou. Com gestos ele faz um coração e diz que Daqui é daqui.

 

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *