Fogão agroecológico traz autonomia para as mulheres e manejo sustentável da Caatinga

Foto: Comissão de Jovens Multiplicadores/as da Agroecologia

Fogão agroecológico traz autonomia para as mulheres e manejo sustentável da Caatinga

Por Tatiane Faustino, jovem multiplicadora da agroecologia

O fogão agroecológico chegou à minha casa na comunidade de Umburanas em Afogados da Ingazeira, no sertão do Pajeú de Pernambuco, através do Projeto Mulheres, Tecnologias e Agroecologia, executado pela Organização Não Governamental Casa da Mulher do Nordeste – CMN, com apoio da Fundação Banco do Brasil. O projeto tem o objetivo de replicar a tecnologia do fogão agroecológico integrado aos quintais produtivos para geração de renda e autonomia política das mulheres.  

O fogão agroecológico é uma tecnologia, que vem contribuindo para diminuição do desmatamento da Caatinga, além de provocar a discussão sobre a divisão do trabalho doméstico nas famílias. Talvez as pessoas que estão lendo, se perguntem ou achem essa tecnologia contraditória. E se pergunte: Como preservar o Bioma Caatinga através de um fogão a lenha? 

Os fogões tradicionais são tecnologias muito comuns e encontradas principalmente na zona rural. Ficam dentro das casas que muitas vezes são má ventiladas, e necessitam de muita lenha para combustão, tendo em vista que são usados todos os dias e por longos períodos de tempo. Geralmente não há uma chaminé para saída da fumaça do fogão, e assim as mulheres, crianças, idosos e pessoas doentes que precisam ficar dentro de casa por mais tempo, passam por um processo de exposição permanente e por isso, são as principais vítimas de doenças respiratórias.

Já o fogão agroecológico é uma tecnologia bem diferente do que encontramos comumente, ele tem uma chaminé, portanto não fumaça dentro de casa, um forno acoplado e possuí alta eficiência energética, o que torna possível o uso de lenha secundária como: podas, gravetos finos, sabugos de milho e cascas de árvore, que são materiais que podem ser encontradas nos quintais produtivos das famílias.  A lenha mais fina possibilita também o manejo ao redor da casa, diminuindo os impactos ambientais no bioma.

Outra reflexão importante que a tecnologia despertou em mim e nas participantes do projeto foi sobre a divisão do trabalho na agricultura familiar, onde somos nós as mulheres, em sua grande maioria, as responsáveis pelo trabalho do cuidado com as crianças, da produção de alimentos, da gestão da água, e com o ambiente doméstico da casa e pela subsistência da família. Nesse sentido também somos as maiores responsáveis pela coleta e queima de lenha para processamento de alimentos tanto para o consumo da família, quanto para a comercialização nas feiras e mercados locais, como fonte geradora de renda familiar. 

Sendo assim, nós nos percebemos como sujeitas fundamentais nesta ação transformadora do manejo da caatinga para fins de produção de madeira para lenha e energia. Esse projeto também tem nos proporcionado refletir sobre questões e ações tão necessárias para ajudar a pensar e transformar as práticas tradicionais na divisão sexual do trabalho na família, no sentido de uma divisão mais justa e igualitária entre homens e mulheres. E assim, seguimos firmes no nosso fazer e nos fortalecendo a cada dia para fazer a diferença no mundo.

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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