Juventude & Agroecologia – Pintando um novo mundo de outra cor

Foto: Comissão de Jovens Multiplicadores/as da Agroecologia (CJMA)

Juventude & Agroecologia – Pintando um novo mundo de outra cor

Por Gabriel Venâncio, jovem multiplicador da agroecologia do Assentamento Parceiros do Pajeú, município de Flores-PE 

Nos últimos 15 anos muitas coisas mudaram principalmente no campo, onde as tecnologias sociais começaram a mudar a historia de quem por lá mora. Mesmo o campo sendo desprezado sem vez ou voz, em meio a sociedade patriarcal conservadora que dominava a tudo e a todos. Onde viver era sinônimo de sofrimento e isolamento do resto do mundo, onde pessoas, principalmente jovens se envergonhavam de dizer que eram do campo e que trabalhava manejando a terra, onde ser mulher era símbolo de fraqueza, e negro era motivo de baixar a cabeça e ouvir dos demais os que eles quisessem dizer, ser LGBT então, era um grande motivo de vergonha paras famílias e para o resto da sociedade, onde todos nos éramos minorias, e as minorias se calavam diante da burguesia, e sociedade em geral.

Mais há exatamente 15 anos, nasce uma esperança, uma luz no fim do túnel para esses jovens camponeses que eram vistos como matuto da roça e jeca. Há 15 anos nasce um coletivo na época denominado Comissão Territorial de Jovens Multiplicadores da Agroecologia (CTJMA), hoje chamada de CJMA (Comissão de Jovens Multiplicadores/as Multiplicadoras da Agroecologia), coletivo esse que deu um novo rumo a vida de vários jovens rurais campesinos e campesinas, de todas as classes, cor, raça e religião. Jovens do campo, das águas, das cidades e das florestas, comunidades ribeirinhas, e quilombolas, todas e todos os jovens que não quiseram se calar diante do patriarcado, diante da alienação das mídias tradicionais, nem de nenhum que quisesse nos menosprezar, esse coletivo nasce com intuito de organizar jovens das regiões do agreste, zona da mata e sertão, de diferentes municípios, no estado de Pernambuco.

Foto: Comissão de Jovens Multiplicadores/as da Agroecologia (CJMA) 

Tatiane Faustino, jovem liderança da comunidade Umburanas, município de Afogados da Ingazeira onde reside, nos conta que aprendeu que as juventudes são diversas. “Lá nos interiores, nos sítios, nas comunidades estão às mulheres/homens, jovens trans, lésbicas, gays, negros/as, indígenas, quilombolas e tantos outros. Sim, a Juventude campesina é diversa! E em nossos territórios existem os conflitos, a falta de políticas públicas, o acesso a renda, o agronegócio destruindo nossos biomas, violência, a saúde precária e a falta de lazer. Por isso, a  Agroecologia vem ser um contra ponto a essa situação, não como milagre que salvar tudo, mais como seiva que nos mantém em pé, aquilombados, de mãos dadas, repartindo o pão e a dor do outro, da outra. Já são quase três anos participando da CJMA, nessa festa das juventudes, e eu já não sou mais tão jovem, só de espírito agora. Foram muitos sorrisos, mutirões, formações, debates, leituras de conjunturas, intercâmbios, práticas agroecológicas, partilhas e aprendizagens. É um coletivo, que tenho muito carinho, um espaço que gosto de estar, me sinto amada, admirada e feliz. Eu desejo a todas as Juventudes, um coletivo como a CJMA em suas vidas.”

Hoje com poucos minutos de conversa com esses jovens multiplicadores é possível notar a desenvoltura que os mesmos possuem em debater ou opinar sobre os diversos assuntos, temas e pautas defendidas pelos mesmos e dentre elas está a agroecologia. Esses jovens são bem preparados para multiplicar seus conhecimentos (que não são poucos), mas ainda são desvalorizados. Eles/as buscam incansavelmente junto ao coletivo mudar cada vez mais essa realidade e historia. Hoje, são dezenas de jovens formados ou em formação nas diversas áreas que vão viabilizar cada vez mais a vida e permanência dos jovens no campo. Pois ao contrário do que se pensavam antes, que era se formar pra sair do campo hoje os jovens se formam para ir para o campo, melhorando as suas produções que já eram desenvolvidas, assim aconteceu com a jovem Felícia Panta da comunidade Santa Rita, município de Triunfo.

Foto: Comissão de Jovens Multiplicadores/as da Agroecologia (CJMA)

Felícia e sua mãe participaram de um intercâmbio promovido pelo Centro Sabiá, a parir da  Chamada de ATER, onde elas conheceram o processo de fabricação de hidromel produzido por um apicultor, movidas pela curiosidade e vontade de escoar uma parte da produção a qual não conseguia beneficiar. E  a partir da participação nesta oficina ela e sua mãe começam a produzir um vinho artesanal com as frutas que tinham  na propriedade. Hoje os vinhos são a maior fonte de renda da família, pessoas vêm de fora para conhecer e degustar seus produtos. Em 2018, Felícia ingressou na UFRPE, no curso de Bacharelado em Ciências biológicas, e sabia que gostaria de fazer algo no curso que fosse agregar toda sua trajetória na agroecologia. Hoje, ela faz um projeto de pesquisa todo voltado ao melhoramento da produção de vinhos, e sua monografia será baseada em todo o processo de fermentação de vinho artesanal agroecológico, e como melhorar a produção, podendo assim fortalecer mais a produção e levar a agricultura familiar para dentro da academia.

Então são grandes realidades como essa de Felícia e Tatiane, que mostram que 15 anos de dedicação aos jovens não foram em vão, que mudemos e poderemos mudar ainda mais as vidas desses sujeitos que compõe nosso coletivo. Muitas outras histórias são parecidas, semelhantes ou diferentes entre si, mais todas contam um pouco de quem somos e como chegamos aqui. Convidamos vocês jovem de todas as classes, cor, raça, ou religião, do campo ou da cidade a estar junto nessa luta, pois somos o futuro na humanidade, mais acima de tudo somos o presente, o presente que não para de mudar, e que temos como dever moldar cada vez mais esse mundo dentro das nossas realidades. CJMA 15 ANOS, PINTANDO UM MUNDO NOVO DE OUTRA COR.

 

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Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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